terça-feira, 20 de julho de 2010

Desidratação dos Cavalos





 






Dr. Henrique Moreira da Cruz

Diz-se
que um animal está desidratado quando o nível de água no organismo é
inferior ao mínimo necessário para o normal funcionamento de todas as
funções metabólicas.

Neste artigo vamos explicar o mecanismo
que conduz à desidratação no cavalo, as respectivas consequências, e
principalmente como prevenir e/ou tratar a desidratação.




Desidratação em Cavalos

O
cavalo, tal como todos os mamíferos, tem necessidade de manter a
temperatura corporal constante dentro de limites rígidos (entre 37 e
39ºC). Isto é obtido através de mecanismos termoreguladores. Durante o
exercício físico, os processos químicos envolvidos em fornecer energia
para a actividade muscular produzem uma quantidade de calor
significante, como produto secundário. Como resultado, a carga térmica
a que o organismo estaria sujeito, se não tivesse capacidade para se
libertar deste excesso de calor, seria tremenda, conduzindo facilmente
a um estado de choque por sobreaquecimento (choque de calor ou choque
hipertérmico).

São três os principais mecanismos
que o cavalo usa para se libertar do excesso de calor produzido durante
o exercício físico (mecanismos termoreguladores):

1. a respiração rápida
2. a redistribuição da circulação sanguínea para a pele
3. a transpiração

Em
certos animais, como por exemplo os cães, a respiração rápida é o
principal mecanismo de libertação de calor; no entanto nos cavalos a
respiração contribui para a libertação de apenas cerca de 20% do calor
total, sendo a transpiração e a redistribuição sanguínea os principais
mecanismos de dissipação de calor.

Durante
exercício físico intenso um cavalo pode perder 10 a 15 litros de
fluidos por hora. Para compensar estas percas, o cavalo tem necessidade
de aumentar o consumo de água e/ou reduzir o volume de urina. Contudo,
por razoes não esclarecidas, há vezes em que o cavalo não se rehidrata
durante ou após um período de exercício, apesar de uma extensa perca de
fluido. A sede é o mecanismo através do qual o corpo reconhece que tem
necessidade de ingerir água. Os estímulos fisiológicos da sede são o
aumento da concentração de sódio no plasma; e/ou um estado de
hipovolémia, isto é, diminuição no volume de fluidos no sistema
circulatório.

O sódio é o principal electrólito
no mecanismo da desidratação. O sódio existe no organismo dissolvido em
água. Quando o organismo perde agua, a concentração de sódio aumenta,
despertando um sinal que é transmitido ao cérebro com a indicação de
que precisa de mais agua. Este é o mecanismo estimulador da sede.

O
suor do cavalo pode ter uma composição em sódio igual ou superior à do
plasma sanguíneo, dependendo do tipo e duração da actividade física
executada. Isto acontece porque quando um cavalo transpira, as grandes
percas de fluido são acompanhadas de uma certa perca de sódio. Posto
isto, podem ocorrer duas situações:




Desidratação em Cavalos

Se
o suor transpirado tiver uma concentração de sódio semelhante à do
plasma, a concentração de sódio no plasma mantém-se constante. Nestes
casos a sede é estimulada devido a diminuição de fluido no organismo. O
organismo reconhece que precisa de mais água.

Contudo,
se o suor transpirado tiver uma concentração de sódio superior à do
plasma, o que implica a perca de elevadas quantidades de sódio a partir
do plasma, a concentração de sódio no plasma diminui. Quando isto
acontece, o organismo pode não reconhecer o déficit de fluidos, pois
proporcionalmente, em relação à água, o sódio esta diluído. Nestas
circunstâncias, o mecanismo da sede não é estimulado até que se
verifique uma diminuição severa no volume de fluidos no sistema
circulatório, com consequências graves nas restantes funções
metabólicas do organismo, nomeadamente no sistema circulatório e
urinário.

Outros factores que podem afectar o
equilíbrio de fluidos no organismo de cavalos durante o exercício
físico são o modo como o cavalo bebe água e o maneio do cavalo durante
o treino e/ou competição. O transporte, por exemplo, pode causar uma
redução no consumo voluntário de água.

Além
disso, há treinadores que por vezes restringem o consumo de água antes
de uma prova, com a intuição de evitar que o cavalo carregue peso
extra. Contudo, está cientificamente provado, tanto em cavalos como em
atletas humanos, que a restrição de água antes de um período de
exercício prolongado pode ser prejudicial por causar um estado de
desidratação severo, que por sua vez reduz o volume plasmático
suficientemente para afectar a dissipação de calor. Um animal
desidratado não pode transpirar adequadamente. Uma das funções da
transpiração é libertar o excesso de calor produzido durante o
exercício físico. Se o cavalo não consegue transpirar adequadamente ao
ritmo que o organismo produz energia calorífica, o animal corre
elevados riscos de sofrer de choque hipertérmico, com consequências
devastadoras, incluindo danos no sistema nervoso.

Em
relação ao modo de administração de água, estudos científicos
demonstraram recentemente que os cavalos bebem consideravelmente mais
água quando esta lhes é fornecida em baldes de água fresca a uma
temperatura de 10 a 12ºC, mudada duas vezes ao dia, do que quando têm
acesso livre e directo a bebedouros automáticos. Está também provado
que, para compensar as percas na transpiração, uma solução salina
isotónica contribui para a manutenção do volume plasmático e
restituição da perca de peso de um modo mais distinto e duradouro do
que simplesmente água. A escolha de uma solução de electrólitos para
rehidratação é especialmente importante em cavalos submetidos a
exercício físico várias vezes ao dia e/ou durante exercício de
endurance (ie: raides), particularmente em condições de temperatura e
humidade elevadas.




Desidratação em Cavalos


A
alimentação do cavalo de competição deve conter um teor elevado de
electrólitos (particularmente sódio e potássio) para compensar as
percas causadas pela transpiração. Uma dieta de manutenção deve ser
suplementada com um "bloco de sal" e/ou administração de electrólitos
na água ou ração conforme o paladar do cavalo.

Note-se
no entanto que existe uma grande variação individual no consumo
voluntário de água entre cavalos. Posto isto, não se deve concluir que
só porque um cavalo bebe menos que os seus companheiros está
desidratado ou vai ser afectado por desidratação durante ou após
exercício. O grau de desidratação e teor de electrólitos podem ser
avaliados através de análises ao sangue. O ideal é colher análises
regularmente para cada cavalo para determinar os valores normais para
cada indivíduo. Deste modo uma ligeira alteração poderá ser detectada
com maior sensibilidade. Por outro lado, tradicionalmente, o grau de
desidratação é estimado clinicamente ao puxar uma prega de pele na
tábua do pescoço
ou, talvez um pouco mais exacto, na pálpebra superior.
Se a marca deixada na pele não desaparecer ao fim de poucos segundos
significa que a pele perdeu elasticidade por desidratação. Note-se
contudo que este é um método bastante grosseiro e inexacto e como tal
requer bastante experiência; deve ser avaliado, não isoladamente, mas
em conjunto com uma avaliação clinica completa. Outros parâmetros
clínicos importantes são a frequência cardíaca e frequência
respiratória, bem como a temperatura rectal, que permite avaliar o
risco de choque hipertérmico.

Durante a
preparação para os jogos olímpicos de Atenas em 2004, onde se previam
condições climatéricas adversas de elevada temperatura e humidade,
rigorosos estudos demonstraram que o método mais eficaz para prevenir o
choque hipertérmico, ou choque de calor, é arrefecer o cavalo
liberalmente após cada prova. Isto foi realizado eficientemente através
de banhos múltiplos com água bastante fria (entre 1 a 4ºC) e aplicação
de ventoinhas para permitir a evaporação do suor, e desse modo evitar a
saturação do suor à superfície da pele, o que iria reduzir a capacidade
de transpiração. O cavalo deve também ter acesso livre a água fresca.
Estes métodos têm sido desde então aplicados com bastante sucesso em
competições realizadas em zonas de climas quentes e húmidos, e estão
certamente indicados para provas hípicas realizadas na Primavera e
Verão no Brasil, sempre que as condições climatéricas conduzam a
transpiração excessiva e risco de choque de calor


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